Um Deus que Sorri


Eu acredito em Deus!

Mas não sei se o Deus em que eu acredito, é o mesmo Deus 
em que acredita o balconista, 
a professora, o porteiro, o bispo ou pastor...


O Deus em que acredito não foi globalizado.



O Deus com quem converso não é uma pessoa, 
não é pai de ninguém.



É uma idéia, uma energia, uma eminência.



Não tem rosto, portanto não tem barba.



Não caminha, portanto não carrega um cajado.



Não está cansado, portanto não está sempre no trono.



O Deus que me acompanha vai muito além do que me 
mostra a Bíblia. 
 
Jamais se deixaria resumir por dez mandamentos, 
algumas parábolas e um pensamento 
que não se renova.
O meu Deus é tão superior quanto o Deus dos outros, 
mas sua superioridade está 
na compreensão das diferenças, na aceitação das 
fraquezas e no estímulo à felicidade.

O Deus em que acredito me ensina a guerrear 
conforme as armas que tenho e detecta 
em mim a honestidade dos atos.

Não distribui culpas a granel: as minhas são umas, as do 
vizinho são outras. 
Nossa penitência é a reflexão.

Para o Deus em que acredito, só vale o que se está sentindo.

O Deus em que acredito não condena o prazer.

O Deus em que acredito não me abandona, mas me exige 
mais do que uma flexão 
de joelhos e uma doação aos pobres: 


cobra caro pelos meus erros e 
não aceita promessas performáticas, 
como carregar uma cruz gigante nos ombros.

A cruz pesa onde tem que pesar: dentro.

É onde tudo acontece e este é o Deus que me acompanha:

Um Deus simples. Deus que é Deus não precisa ser 
difícil e distante, 
sabe tudo e vê tudo. 


Meu Deus é discreto e otimista. 
Não se esconde, ao contrário, aparece principalmente nas horas 
boas para incentivar, 
para me fazer sentir o quanto vale um 


pequeno momento grandioso: 
de um abraço numa amizade, 
uma música na hora certa, um silêncio.

O Deus que eu acredito também não inventou o pecado, 
ou a segregação de credo.

E como ele me deu o Livre-Arbítrio, 
sou eu apenas que respondo e responderei 
pelos meus atos.

Autoria de Rubem Alves.

Sorriso


Onde estiveres, seja onde for, não olvides estender o sorriso, por oferta sublime da própria alma.

Ele é o agente que neutraliza o poder do mal e a oração inarticulada, que inibe a extensão das trevas.

Com ele, apagarás o fogo da cólera, cerrando a porta ao incêndio da crueldade.

Por ele, estenderás a plantação da esperança, soerguendo almas caídas na sombra, para que retornem à luz.

Em casa, é a benção da paz, na lareira da confiança.

No trabalho, é música silenciosa incentivando a cooperação.

No mundo, é chamamento de simpatia.

Sorri para a dificuldade e a dificuldade transformar-se-á em socorro de tua vida.

Sorri para a nuvem, e ainda mesmo que a nuvem se desfaça em chuva de lágrimas nos teus olhos, o pranto será conforto do Céu, a fecundar-te os campos do coração.

Não te roga o desesperado solução do enigma de sofrimento que lhe persegue o destino. Implora-te um sorriso de amor, que renove as forças, para que prossiga em seu atormentado caminho.

E, em verdade, se os famintos e os nus te pedem pão e agasalho, esperam de ti, acima de tudo, o sorriso de ternura e compreensão que lhes acalme chagas ocultas.

Não condenes as criaturas que se arrogaram aos precipícios da violência e do crime. Oferece-lhes o sorriso generoso da fraternidade, que ajuda incessantemente, e voltar-se-ão, renovadas, para o roteiro do bem.

Sorri, trabalhando e aprendendo, auxiliando e amando sempre.

Lembra-te de que o sorriso é o orvalho da caridade e que em cada manhã, o dia renascente no Céu é um sorriso de Deus.

Autor: Meimei
Psicografia de Francisco Cândido Xavier

Pedras da vida


...há situações que constituem a nossa prova aflitiva e áspera, mas redentora e santificante.
Perdoemos as pedras da vida pelo ouro da experiência e de luz que nos oferecem.
E, sobretudo, armemo-nos de coragem para o trabalho, porque é na dor do presente que corrigimos as lutas de ontem, acendendo abençoada luz para o nosso grande porvir.

Autor: Bezerra de Menezes
Psicografia de Chico Xavier. Da obra: Bezerra. Chico e Você

Auto-afirmação


Autor: Joanna de Ângelis (espírito)

As raízes da auto-afirmação do indivíduo encontram-se na sua infância, quando os movimentos automáticos do corpo são substituídos pelas palavras, particularmente quando é usada a negativa. Ao recusar qualquer coisa, mediante gestos, a criança demonstra que ainda não se instalaram os pródromos da sua identidade. No entanto, a recusa verbal, peremptória, a qualquer coisa, mesmo àquelas que são agradáveis, denotam que está sendo elaborada a auto-afirmação, que decorre da capacidade de escolha daquilo que interessa, ou simplesmente se trata de uma forma utilizada para chamar a atenção para a sua existência, para a sua realidade.
Trata-se de um senso de identificação infantil, sem dúvida, no qual a criança, ainda incapaz de discernir e entender, procura conseguir o espaço que lhe pertence, dessa maneira informando que já existe, que solicita e merece reconhecimento por parte das demais pessoas que a cercam.
Quando a criança concorda, afirmando a aceitação de algo, age apenas mecanicamente e por instinto, enquanto que se utilizando da negativa, também denominada conceito do não, dá início à descoberta do senso de si mesma, do seu Self, passando, a partir desse momento, a exteriorizá-lo, afirmando o NÃO, mesmo quando sem necessidade de fazê-lo. E a sua maneira de auto-identificação que, não raro, parece estranho aos adultos menos conhecedores dos mecanismos da mente infantil.
Quando ocorre a inibição da negativa — o que émuito comum — esse fenômeno dará surgimento a alguém que, no futuro, não saberá exatamente o que deseja da vida, experimentando uma existência sem objetivo, que o leva a ser indiferente a quaisquer resultados, e, por cuja razão, evita expressar-se negativamente, deixando-se arrastar indiferente aos acontecimentos, assim desvelando o estado íntimo de inibição, de timidez e de recusa de si mesmo. Com o tempo essa situação se agrava, levando-o a um estado de amorfia psicológica.
O Self, por sua vez, se estrutura e se fixa através do sentimento, e quando este se encontra confuso, sem delineamento, a auto-afirmação se enfraquece e a capacidade de dizer NÃO perde a sua força, o seu sentido.
A auto-afirmação se expressa especialmente no desejo de algo, mediante duas atitudes que, paradoxalmente se opõem: o que se deseja e o que se rejeita.
Em um desenvolvimento saudável da personalidade, sabe-se o que se quer e como consegui-lo, o que se torna decorrência inevitável da capacidade de escolha. Quando tal não ocorre, há surgimento de uma expressão esquizóide, na qual o paciente foge para atitudes de submissão receosa e de revolta interior. Silencia e afasta-se do grupo social que passa a ser visto com hostilidade, por haver-se negado a penetrá-lo, alegando, no entanto, que foi barrado... A sua óptica distorcida da realidade, trabalha em favor de mecanismos de transferência de culpa e de responsabilidade.
Mediante essa conduta, o enfermo se nega a liberação dos conflitos, mantendo-se em atitude cerrada, por falta do senso de auto-afirmação. O seu é o conceito falso de que não é bem-vindo ao grupo que ele acredita não o aceitar, quando, em verdade, é ele quem o evita e se afasta do mesmo.
À medida que vão sendo liberados os sentimentos perturbadores e negativos que se encontram em repressão, os desejos de afetividade, de expressão, de harmonia, manifestam-se, direcionando-o para valiosas conquistas.
Com o desenvolvimento da capacidade de julgar valores, surgem as oportunidades de auto-afirmação, face à necessidade de escolhas acertadas, a fim de atender aos desejos de progresso, de crescimento ético-moral e de realização interior.
Por meio de exercícios mentais, nos quais se encontrem presentes as aspirações elevadas e de enobrecimento, bem como através de movimentos respiratórios e físicos outros, para liberar o corpo da couraça dos conflitos que o tornam rígido, a auto-afirmação se fixa, propiciando um bom relaxamento, que se faz compatível com o bem-estar que se deseja.
Com o desenvolvimento intelecto-moral da criança, passando pela adolescência e firmando os propósitos de autoconquista, mais bem delineadas surgem as linhas de segurança da personalidade que enfrenta os desafios com tranqüilidade e esperanças renovadas.
Nesse particular, a vontade desempenha importante papel, trabalhando em favor de conquistas incessantes, que contribuem para o amadurecimento psicológico, característica vigorosa da saúde mental e moral.
Em cada vitória alcançada através da vontade que se faz firme cada vez mais, o ser encontra estímulos para novos combates, ascendendo interiormente e afirmando-se como conquistador que se não contenta em estacionar nos primeiros patamares defrontados durante a escalada de ascensão. Desejando as alturas, não interrompe a marcha, prosseguindo impertérrito no rumo das cumeadas.
Esta é a finalidade precípua do desenvolvimento emocional, estabelecendo diretrizes que definam a realidade do ser, que se afirma mediante esforço próprio. Em tal cometimento, não podem ficar esquecidos o contributo dos pais, da família, da sociedade, e as possibilidades inatas, que remanescem do seu passado espiritual.
Estando, na Terra, o Espírito, para aprender, reparar e evoluir, nele permanecem as matrizes da conduta anterior, facultando-lhe possibilidades de triunfo ou impondo-lhe naturais empecilhos que lhe cumpre superar.
Quando a auto-afirmação não se estabelece, apresentando indivíduos psicologicamente dissociados da própria realidade, tem-se a medida dos seus compromissos anteriores fracassados e da concessão que a Vida lhe propicia por segunda vez para regularizá-los.
Cumpre, portanto, ao psicoterapeuta, o desenvolvimento de uma visão profunda do Self, de forma especial, em relação ao ser eterno que transita no corpo em marcha evolutiva.
Somente assim, se poderá entender racionalmente o porquê de determinados indivíduos iniciarem a auto-afirmação nos primeiros meses da infância, enquanto outros já se apresentam fanados, incapazes de lutar em favor da sua realidade, no meio onde passará a experienciar a vida.
A sociedade marcha inexoravelmente para a compreensão do Espírito eterno que o homem é, do seu processo paulatino de evolução através dos renascimentos, herdeiro de si mesmo, que transfere de uma para outra etapa as realizações efetuadas, felizes ou equivocadas, qual aluno que soma experiências educacionais, promovendo-se ou retendo-se na repetição das lições não gravadas, com vistas à conclusão do curso.
A Terra assume sua condição de escola que é, trabalhando os educandos que nela se encontram e propiciando-lhes iguais oportunidades de evolução e de paz.

Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Amor, Imbatível Amor.

A arte do amor







Comunicação, a arte de falar um com o outro, dizer o que sentimos e pretendemos, falando com clareza, ouvir o que o outro fala, deixá-lo certo de que estamos ouvindo é, sem sombra de dúvida, a habilidade mais essencial para a criação e a manutenção de um relacionamento amoroso.
A afirmativa é de Leo Buscaglia, professor de uma Universidade da Califórnia.
Ele diz que o mais alto nível da comunicação é o não verbal. O que quer dizer: se você ama, mostre isto em atitudes. Faça coisas amorosas para o outro. Seja atencioso. Coloque os seus sentimentos na prática.
Faça aquela comida favorita. Mande flores. Lembre-se dos aniversários. Crie os seus próprios feriados de amor. Não espere pelo Dia dos Namorados.
E ele relaciona alguns pontos importantes para que uma relação a dois se aprofunde e se agigante, vencendo os dias, os meses e os anos.
Diga sempre ao outro que o ama, através de suas palavras, suas atitudes e seus gestos. Não pense que o seu par já sabe disso. Ele precisa desta afirmação.
Cumprimente sempre o seu amor pelos trabalhos bem-feitos. Não o deprecie. Dê o seu apoio quando ele falhar. Pense que tudo o que ele faz por você, não o faz por obrigação. E estímulo e elogio asseguram que ele vai repetir a dose.
Quando você se sentir solitário, incompreendido, deixe-o saber. Ele se sentirá mais forte por reconhecer que tem forças para confortar você.
Afinal, os sentimentos, quando não externados, podem ser destrutivos. Lembre que, apesar de amá-lo, o outro ainda não pode ler a sua mente. Não se feche em si mesmo.
Expresse sentimentos e pensamentos de alegria. Eles dão vida ao relacionamento. É maravilhoso celebrar dias comuns, datas pessoais, como o primeiro encontro, o primeiro olhar, o dia da reconciliação depois de um breve desentendimento.
Dê presentes de amor sem motivo. Ouça a sua própria voz a falar de sua felicidade.
Diga ao seu amor que ele é uma pessoa especial. Não deprecie os sentimentos dele. O que ele sente ou vê é sua experiência pessoal, portanto, importante e real.
Abrace sempre. A comunicação de amor não verbal revitaliza a relação.
Respeite o silêncio do seu companheiro. Momentos de quietude também fazem parte das necessidades espirituais de cada um.
Finalmente, deixe que os outros saibam que você valoriza a quem ama, pois é bom partilhar as alegrias de um saudável relacionamento com os outros.

*   *   *
É possível que você esteja pensando que todas essas idéias não são realmente necessárias entre pessoas que se amam. Elas acontecem de forma espontânea.
Mas, nem tanto. Nem sempre. São esses vários aspectos da comunicação que constituem o alicerce de um relacionamento amoroso saudável. Eles também produzem os sons mais maravilhosos do mundo. Os sons do amor. Experimente!

Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita,
com base no cap. 2 do livro Amando uns aos outros,
 de Leo Buscaglia, ed. Nova Era.

Mais um pouco

Quando estiveres à beira da explosão na cólera, cala-te mais um pouco e o silêncio nos poupará enormes desgostos.

Quando fores tentado a examinar as consciências alheias, guarda os princípios do respeito e da fraternidade mais um pouco e a benevolência nos livrará de muitas complicações.

Quando o desânimo impuser a paralização de tuas forças na tarefa a que foste chamado, prossegue agindo no dever que te cabe, exercitando a resistência mais um pouco e a obra realizada ser-nos-á bênção de luz.

Quando a revolta espicaçar-te o coração, usa a humildade e o entendimento mais um pouco e não sofreremos o remorso de haver ferido corações que devemos proteger e considerar.

Quando a lição oferecer dificuldades à tua mente, compelindo-te à desistência do progresso individual, aplica-te ao problema ou ao ensinamento mais um pouco e a solução será clara resposta à nossa expectativa.

Quando a idéia de repouso sugerir o adiamento da obra que te cabe fazer, persiste com a disciplina mais um pouco e o dever bem cumprido ser-nos-á alegria perene.

Quando o trabalho te parecer monótono e inexpressivo, guarda fidelidade aos compromissos assumidos mais um pouco e o estímulo voltará ao nosso campo de ação.

Quando a enfermidade do corpo trouxer pensamentos de inatividade, procurando imobilizar-te os braços e o coração, persevera com Jesus mais um pouco e prossegue auxiliando aos outros, agindo e servindo como puderes, porque o Divino Médico jamais nos recebe as rogativas em vão.

Em qualquer dificuldade ou impedimento, não te esqueças de usar um pouco mais de paciência, amor, renúncia e boa vontade, em favor de teu próprio bem-estar.

O segredo da vitória, em todos os setores da vida, permanece na arte do aprender, imaginar, esperar e fazer mais um pouco.

Xavier, Francisco Candido. Da obra: Apostilas da Vida. Ditado pelo Espírito André Luiz. 5 edição. Araras, SP: IDE. 1993.

Amor Impossível

Se você ama alguém que não lhe pode corresponder, lembre-se daqueles que não têm um amor ao menos para chorar suas lágrimas. Se o amor é uma conquista, alguns ainda não a alcançaram.

Se a pessoa que você ama já tem compromisso, evite viver uma relação paralela que poderá machucar seu coração. Nossos sentimentos comandam nossa vida, deixá-los à deriva é perigo para nossa própria sobrevivência.

Ninguém que se aventura numa relação paralela consegue dela sair sem marcas. Os motivos que levam alguém a tal aventura geralmente se enraízam em vidas passadas.

Quem ama nem sempre consegue correspondência com o ser amado. Às vezes nos deparamos com os amores platônicos ou não recíprocos. Respeitar os limites do outro é fundamental para nosso equilíbrio psíquico.

Quando você se deparar com um amor proibido atravessando seu percurso de vida, olhe para si mesmo e conscientize-se de que você não merece pagar preço tão alto por uma ligação que não possa ser postergada.

Se o seu amor não é correspondido ou é platônico e o outro não sabe nem lhe dá atenção, não espere que um milagre resolva a situação. Lance-se ao seu próprio destino buscando realizações superiores.

Não lamente a saída de alguém de sua vida. Reenquadre a posição que você deve ocupar na vida perante o futuro, sem aquela pessoa. O outro que saiu, apenas desocupou o espaço por você constituído. Permita que algo nobre ocupe devidamente aquele lugar.

Se você se encontra em solidão, observe à sua volta e verá que, mesmo acompanhada, muita gente está só. A companhia do amor é a paz da consciência e o pensamento voltado para o futuro.

Por contingências reencarnatórias, o amor entre duas pessoas poderá estar separado pelos laços de parentesco, pelo compromisso do outro, por expiações ou pela preferência sexual. Nesses casos, aja com cautela e equilíbrio, considerando que a separação imposta pela vida representa processo educativo em curso.

Muitas vezes tetantamos colocar num ponto máximo de nossa vida, o amor a uma pessoa em lugar do amor a Deus, à vida ou, até mesmo, a si próprio. Esse amor exagerado tende a anular
quem a ele se entrega.

Em determinada fase de nossa vida nos encontramos com um outro que inunda nossa consciência alojando-se sem pedir licença, parecendo ser a única razão de existirmos. Muitas vezes se trata de fascinação movida por carências não atendidas. Valorização de si mesmo e autoestima, são fundamentais para o reequilíbrio psíquico.

As barreiras da posição social, do nível intelectual e outras erigidas pelo preconceito, são contingências que nos ensinam a grandeza da vida verdadeira, da qual somos originários e para a qual voltaremos como espíritos.

Se o amor possível está difícil, o impossível merece a nossa cautela para não se tornar uma armadilha cármica a nos aprisionar na teia das reencarnações expiatórias.

O amor não-amado, Jesus, soube entender os homens, face à ignorância espiritual da humanidade. O seu amor é o amor possível e libertador.

O amor não correspondido é aquele que devemos esquecer a fim de buscarmos outro amor, que preencherá nossa vida de felicidade e paz. A fixação nele é porta aberta à obsessão e a anulação de si mesmo.

O amor impossível nos aprisiona e nos faz estacionar diante da vida. Sua presença em nossa consciência e em nosso coração, impede-nos de crescer e evoluir.

Se não conseguimos realizar o amor que nos parece o máximo de nossa vida, lembremo-nos que um outro amor pode estar a nos esperar do outro lado da vida, confiante em nosso amadurecimento antes da partida. 

O amor dos entes queridos, que nos antecederam na viagem de retorno ao mundo espiritual, bem como daqueles que pertenceram ao nosso passado reencarnatório, estará sempre presente em nossas vidas na medida em que permaneçamos trabalhando em favor do amor e para que o amor alcance os que dele carecem.

Amanhã poderemos estar diante de algo muito mais importante do que aquele amor que nos impede o crescimento. Na manhã seguinte, certamente o dia poderá ser mais acolhedor. Acredite no amor possível, é ele que nos faz crescer.

Jesus nos ensinou que o amor é sempre possível àquele que pensa no bem.

Adenáuer Novaes


(Capítulo 8º, do livro Amor Sempre, editado pela Fundação Lar Harmonia)

Sensibilidade + Amor = MULHER

Sensibilidade + Amor = Mulher
Esse mês comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Comemorações, festas, homenagens, mas será que isso representa o que se passa dentro de cada mulher? Minha experiência no consultório diz que não! São mulheres bonitas, inteligentes, algumas realizadas profissionalmente, mas no íntimo, infelizes, insatisfeitas, decepcionadas, machucadas, tristes, doentes emocionalmente, mas todas em busca da essência que há em todas: força, coragem, garra, luta e, principalmente, a sensibilidade e a capacidade de doar amor, apesar de nem todas terem essa consciência, ainda!

Por outro lado, temos os homens e, infelizmente, há ainda muitos contaminados pela educação machista, de que não devem chorar, demonstrar seus sentimentos e, assim, negam cada vez mais o que sentem e com medo, inconsciente claro, fogem. Fogem da entrega, do amor. E com isso, homens e mulheres, perdem. Perdem a oportunidade de crescerem e, mais ainda, de amarem e serem amados. Questiono o porquê de tantos desencontros, tristezas e lágrimas. E percebo que as emoções sempre são as origens dos conflitos, das brigas, da infelicidade. É mais do que certo que realização profissional e conquistas materiais não são suficientes para fazer alguém feliz. A emoção sobrepõe-se a todas as outras conquistas. Ainda buscamos uma relação saudável, um companheiro para dividir cada momento da vida, alguém para trocar acima de tudo, amor.

Algumas mulheres podem dizer que isso não acontece com elas, são realizadas, tiveram, ou não, seus filhos, um bom emprego, ou negócio próprio, mas será que são felizes em sua relação afetiva? São correspondidas em seu amor? Estão satisfeitas com a maneira que estão conduzindo suas vidas? Devemos lembrar que muitas vezes a imagem de alguém independente, livre, pode ser apenas superficial para proteger um lado emocional fragilizado e machucado. Muitas mulheres se contentam com o conforto material que seus companheiros oferecem, mas porque talvez saibam que eles são incapazes de dar o amor que, na verdade, desejam.

Quantas mulheres desejam o divórcio, mas não têm coragem de pedi-lo? Quantas são as que amam e não se sentem amadas? Quantas se sentem sozinhas mesmo acompanhadas? Quantas estão sós e buscam alguém que as amem? Ou ainda, mulheres dode casa, que abriram mão de sua própria vida para cuidar da casa, dos filhos, dos pais, marido e não são sequer reconhecidas? Quantas não buscam uma atividade profissional por se sentirem incapazes? Parece que somos capazes de cuidar de tudo, mas neste tudo, parece que esquecemos muitas vezes, de cuidar de nós mesmas. Por que fugir do desafio de cuidar de si mesma? Sim, cuidar de si mesma para muitas é um verdadeiro desafio.

Na verdade, o que explica muitos dos conflitos e que reflete diretamente nos relacionamentos, é a busca de simplesmente querer ser cuidada, protegida, ainda que inconscientemente. Alguém pode dizer: eu não! Você sim! Qual o erro em querer um relacionamento baseado no companheirismo, amizade, cumplicidade, troca e acima de tudo, baseado no amor? Qual o erro em querer alguém que se preocupe com você tanto quanto você se preocupa? Que lhe dê atenção, carinho, afeto? Quem não gosta de poder contar com um abraço, um colo, depois de um dia difícil? Não há mal nenhum nisso, seja homem ou mulher. O que precisamos é sermos coerentes com aquilo que sentimos e demonstramos, do contrário viveremos em conflito, não só com o outro, mas com nós mesmas.

O que leva a verdadeira independência não é só ser capaz de se manter financeiramente, mas principalmente, ser capaz de enfrentar os medos, os desejos, de ser consciente do que sente e acreditar que é possível encontrar alguém que valorize tudo aquilo que você doa sem que seja pedido. Alguém que saiba reconhecer que além de um corpo ou rosto bonito, existe um ser humano com sentimentos, que chora, reclama, pede, espera, mas também acolhe, cuida, torce, e deseja acima de tudo, troca. Afinal, somos capazes de parar seja o que for e lembrarmos de dar um telefonema só para que o outro se sinta importante. Somos capazes de mesmo cansadas, lembrar de dar um abraço e perguntar como foi o dia, mesmo que o próprio tenha sido péssimo. É, somos capazes acima de tudo, de amarmos e continuarmos amando, mesmo machucadas.

Por isso e muito mais, é que temos que continuar demonstrando o que sentimos, sem negações, fugas ou culpas. Temos que valorizar cada vez mais o quanto somos únicas e especiais, para que assim, mesmo não sendo reconhecidas por quem amamos, nós mesmas conseguiremos nos aprovar e reconhecer nosso valor! Quando acreditarmos em nós mesmas, não permitiremos mais sonhos vazios, relações doentes, falta de respeito e amor, nem mendigaremos migalhas, pois neste momento seremos capazes de nós amarmos e estaremos finalmente livres para amar, ser amada e enfim, sermos felizes, com quem realmente nos valoriza! Um dia, quem sabe você se libertará da necessidade que alguém perceba e valorize a simplicidade de seus desejos, o dom inato de doar e amar incondicionalmente. Tenha certeza, nosso ser é único! E parabéns pelo nosso dia!



Texto de Rosemeire Zago(psicóloga clínica, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática).

Algumas breves reflexões sobre o feminino

Mulher
O feminino em essência é nutridor

Nutre, a mulher, com seu leite ao seu filho, a si mesma e à vida com sua intuição, com seus gestos, com sua capacidade de ouvir e de receber em si o outro, com sua fala que aquece e envolve. A nutrição é um ato de amor. Quando assim nutrimos a vida (filhos, carreira, companheiros de existência, e a nós mesmas) ela revivifica, ganha novo significado e se robustece. A competitividade exagerada que empregamos no trabalho e no cotidiano dificulta estarmos em paz com esse atributo que irá requerer de nós disponibilidade para ouvir, para ser receptivo ao outro, para dar de nós nutrição afetiva.
 



Ser feminina
Requer de nós estarmos em paz e aceitando os aspectos tipicamente femininos do nosso corpo, cuidando bem dele, com alimentação adequada, exercícios físicos apropriados, higienização necessária e levando em consideração os períodos do ciclo hormonal, que às vezes requerem de nós pequenas mudanças nos hábitos. E estar em paz com nosso corpo nos ajuda a desenvolvermos uma sensualidade e uma sexualidade mais vibrante e saudável. O corpo feminino que a mídia adora e que é vendido como perfeito, ou é anoréxico (ou quase), sem formas femininas naturalmente arredondadas, ou é turbinado com silicone - peitos, coxas, nádegas, bochechas, lábios, para ficar mais, muito mais arredondado e farto a fim de vender mais revistas, novelas, pornografia, produtos e negócios.
As mulheres que ficam fora desse padrão conseguido à base de cirurgia plástica ou com uma alimentação a base de muita água e alface, muitas vezes, passam a detestar o corpo que carregam, negando-o ou castigando-o com cirurgias desnecessárias, tratamentos estéticos caríssimos, com dietas sem propósito, ou com malhação exagerada.
O tipo de vida que a mulher do ocidente leva faz com que ela vez ou outra sinta que a menstruação a atrapalha. Existem também mulheres que chegam a se sentir doentes quando menstruadas. É também comum encontrar uma mulher que odeie menstruar, ou que sofra de TPM, desenvolva endometriose, tenha dificuldades para engravidar. Muitas retardam ao máximo a gravidez, privilegiando a carreira; a sociedade atual inclusive prega que isso é o melhor para nós. Será?

O ciclo menstrual, as marés, os ciclos lunares, as estações do ano, os ciclos de vida (gestar, nascer, crescer, amadurecer, morrer, renascer) estão todos de certa forma intrinsecamente relacionados ao feminino. Faz parte assim do sagrado da vida na Terra. Menstruar é nossa dádiva (porque é associado ao dom de criar e recriar a vida).
A mídia também vende uma outra imagem de mulher que tentamos copiar a qualquer preço, ainda que seja à base de antidepressivos, pois ela é forte, feliz, trabalha fora, tem sucesso, faz carreira, tem dinheiro, é jovem, tem filhos pequenos sadios e felizes, marido ou namorado satisfeitíssimo, amigas igualmente bem sucedidas, família, casa bonita e florida, tudo lindo, equilibrado e perfeito... (ainda que fora dos padrões da realidade viável).
Digo não viável porque não se consegue colocar o mesmo empenho necessário em coisas que nos puxam para lados opostos, como fazer carreira bem sucedida e criar filhos pequenos, de forma que cresçam saudáveis emocional, física, mental e espiritualmente. Algo não será bem resolvido, seja a carreira ou os filhos.
A mulher que hoje assume tanta responsabilidade vive cansada, às vezes mal-humorada, outras vezes sente que a vida exige demais dela, quando não é ela mesma quem se exige muito. Fica ressentida.
É essa mulher que se deprime, que sofre de ansiedade, de estresse.
Descobrir que não somos perfeitas e que precisamos de ajuda ou de abrir mão de algum encargo, digo encargo e não dever, poderá começar a nos ajudar.
 



Ser feminina
É ser intuitiva e usar essa intuição na vida comum.
Apesar de este atributo ser muito badalado, vejo que de uma forma geral usamos menos a intuição do que deveríamos, desabituadas que estamos a ela.
A intuição não é “achismo” (eu acho que), nem é julgamento ou preconceito. A intuição é uma percepção muito real e completa, não requer análise criteriosa do assunto, é um saber. Ela deve ser trabalhada, observada, para podermos usá-la com confiança em parceria com nossa capacidade de raciocinar, passando a ser benção na vida de cada um.
 



Ser feminina
E ser acolhedora. Hoje milhares de crianças pequeninas são educadas por atendentes de creches, professores, babás, enfermeiras ou empregadas domésticas (tanto faz a classe econômica). A pior parte fica para a classe mais pobre, pois, aí as crianças se criam sozinhas. Faltam-nos tempo e disponibilidade para acolher nossos filhos com a quantidade e qualidade que precisam e merecem.
Repassamos nosso dom para funcionários pagos para “ocupar” nosso espaço, já que “temos que“ ocupar outros lugares na vida.
Acolher é receber o outro e o envolver, pode ser através dos abraços e afagos, mas também da atitude de ouvir e de enxergar verdadeiramente o outro, sem pressa, entregue ao deleite do momento, pode ser também através da fala amorosa que aquece e enternece, fazendo com que o outro se sinta vivo e importante.
 



Ser feminina
É ser por natureza criativa. Criatividade que pode ser direcionada para criar filhos; criar beleza na vida; para pintar quadros; escrever poesia; costurar; bordar; conceber prédios, escrever livros, trabalhos sociais; encontrar a cura para doenças; inventar comidas deliciosas; cultivar jardins.
Através de nossa criatividade podemos acolher nossa alma e aos que estão ao nosso redor de uma forma mais bela e menos tediosa.

Feminino e masculino, atributos complementares da alma humana, um não é melhor ou pior que o outro, ambos são importantes para nosso pleno desenvolvimento como individualidades e como humanidade. Negar um atributo para robustecer outro tem sido a escolha nossa como coletividade, ao longo de séculos, mas pela gravidade das mazelas que afligem hoje a humanidade, podemos perceber a necessidade premente do resgate do feminino, primeiramente através da figura arquetípica da mãe, e por meio dela, de todas as demais. As gerações futuras agradecerão.



Texto de Thais Accioly

A nova mulher e suas ferramentas em busca da plenitude

A nova mulher e suas ferramentas em busca da plenitude!
Infelizmente, feridas por regras patriarcais, muitas mulheres saíram do extremo da submissão em busca de seu real valor, mas se perderam. Assim, morrendo de medo de se sentirem novamente amarradas pelas rédeas do passado, insistem em renegar sua alma acolhedora, sua beleza encantadora, seu coração fértil, receptivo...

Neste momento, desejo enaltecer esse doce coração, provocar - no bom sentido - o desabrochar completo desta alma legitimamente sensível, terna, plena!

Que possamos, especialmente hoje e a partir de agora, baixar as armas, as defesas e as desconfianças... e simplesmente ser mulher – com todos os predicados que esse lugar nos cabe! Porém, não com um comportamento maquiado, afiado, dolorosamente sociabilizado. Proponho um comportamento autêntico, com direito à sua notável delicadeza, à doçura que tantas vezes é substituída pelo espírito de competição e comparação equivocada com os homens.

Que deixemos, enfim, de lutar por uma igualdade genuinamente impossível, que mais nos desvalorizaria do que enobreceria. Que passemos a assumir nossas maravilhosas e caras diferenças e atuemos decididamente a partir de nossa feminilidade essencial, preciosa, sublime. E que façamos isso, sobretudo, no exercício de conduzir as nossas relações, seja no âmbito profissional ou pessoal.

Desejo que nós, mulheres, recuperemos nossa capacidade de sedução e envolvimento – no sentido mais amplo dessas expressões – sem, contudo, termos de agir como os homens. Não somos homens. Não somos melhores nem piores. Somos mulheres, somos o feminino divinamente complementar do masculino e vice-versa.

Não precisamos de igualdade, apenas de nossa singularidade. Portanto, sugiro que sejamos firmes, justas e produtivas, mas sem nunca renegarmos nossa natureza criadora e criativa. E com certeiros atos, que possamos, de fato, conquistar o mundo.

Porém, não falo de uma conquista cujo adversário se chama homem! Não precisamos de adversários, mas de companheiros, aliados, protetores e amigos. Quando proponho que nos comportemos femininamente, estou sugerindo o exercício da lucidez feminina, da capacidade que temos de conciliar e compreender, de um gesto que perdoa, um abraço que envolve, de uma conduta que nutre e floresce o que está ao seu redor...

Sei que muitas mulheres são subjugadas e até desvalorizadas em seu ambiente de trabalho e até mesmo em suas relações afetivas; sei que muitas delas não encontram espaço para sua expressão máxima e contundente. Por isso mesmo, hoje especialmente, quero defender a urgência do deixar-ser e levantar a bandeira em nome do SER MULHER!

Que todos nós possamos reconhecer o feminino que há em cada um, o feminino Gaia, o feminino que gera e dá à luz tudo o que é vivo... para que o mundo seja salvo da agressividade, do abandono e da carência profunda de afeto que vem sofrendo!

A gentileza é feminina!
Rosana Braga é autora do livro O PODER DA GENTILEZA. 

Aceitando a Mulher em mim


Primeiro aceitar o ritmo próprio, as vezes difícil de entender, especial, cíclico, de mudanças periódicas, de inícios e de finais que a obrigam a se refazer e se transformar muitas vezes. A mulher é um Ser da Natureza e junto com ela sua vida corre, escoa e desliza muito perto da essência das coisas.

Isso teria que nos ensinar que as circunstâncias externas podem ser naturalmente levadas em conta, mas as circunstâncias internas precisam também ser constantemente reconsideradas. Ser mulher começa na profunda valorização do seu corpo: muitas mulheres vivenciam o corpo como se fosse uma casa que da qual perderam a chave, algo que não é delas. Falam do funcionamento físico como um sistema que não está dentro delas...

Ainda hoje a mulher se deixa levar pelos padrões da mídia, comparando qualidades físicas, atendo-se com desespero a padrões da moda. Isso acaba por negar ou reprimir o que ela deveria mais apreciar em si mesma, o que ela própria é!

Identificar num conceito consumista seus supostos "defeitos" pessoais, é ficar presa a eles, e criar uma situação tão negativa, que parece não haver solução... Há pesquisas que indicam que ler algumas revistas ditas femininas aumentam e muito o nível de depressão das mulheres e "achata" sua auto-estima.

A sociedade valoriza o externo, o conceito abstrato: é o médico milagroso que emagrece e não a consciência de querer emagrecer; é a maquiagem que embeleza e não a expressão do olhar...

A verdadeira identidade da mulher não está no documento do RG, mas sim na consciência da sua Unicidade, Continuidade e Mesmicidade: sentimentos que partem da necessidade de se reconhecer no Espaço (com a integração do corpo), de se relacionar com o Tempo (se mantendo única mesmo com todas as experiências passadas), e de ser reconhecida pelos outros, aumentando suas relações interpessoais com constantes experimentações, transformando o mundo ao seu redor, configurando e re-definindo a si mesma, sempre.

Tentar recuperar o respeito, a dignidade e a civilidade do contato humano que andam parecendo tão raros é o que melhor expressa a identidade profunda do Feminino, e essa é a tarefa mais digna das mulheres nesse início de século.


Sonia Blota Belotti 

Sobre a alma feminina e ser mulher


O que significa ser uma mulher hoje em dia? A resposta varia muito conforme a idade desta mulher, mas há uma característica que exigimos de todas – que sejam independentes. A resposta para a pergunta não parece ser muito difícil se não colocarmos tal palavra. A pergunta passa a ser: O que significa, hoje em dia, ser uma mulher – acima de tudo – independente?

Há alguns anos, talvez ainda na primeira metade do século passado, nós não tínhamos muitas opções. Ser mulher significava, na maioria dos casos, ser casada, cuidar de um lar e dos filhos, ter cuidado especial com o marido e, aos poucos, com os mais velhos da família. Depois da revolução da pílula, do voto feminino, e de mais alguns hippies e revoluções no caminho, uma mulher precisa ser mais do que isso. O que precisamos ser? O que significa ser independente?

Queimamos nossos sutiãs, escolhemos não ter filhos, saímos dos casamentos assim como entramos, rasgamos os vestidos de noiva, pegamos no batente, acordamos cedo para trabalharmos fora de casa, moramos sozinhas. Tudo isso é independência? Não precisamos nos casar virgens, não precisamos nos casar. Não precisamos tolerar maridos rabugentos, não precisamos de maridos. Não passamos mais a noite toda acordada por causa das crianças, não precisamos de crianças. Vamos votar todos os anos pares, apitamos jogos de futebol (temos times femininos de futebol, ainda que ninguém os leve a sério). Bebemos cerveja, batemos massa de cimento, falamos sobre sexo, viajamos para qualquer lugar do mundo sem nos preocupar com satisfações. Tudo isso é independência?

Volta-se à questão: o que significa ser mulher? Ser mulher significa tudo isso ou o contrário disso? O que somos e para quem?

A alma feminina é delicada. Todas as mulheres são delicadas – as que vestem rosa e as que vestem preto, as com rímel nos olhos e as sem, as que cruzam as pernas ao se sentarem e as que dão gargalhadas altas. A alma feminina é delicada porque torna tudo muito cuidadoso. As mulheres, queiram ou não, têm o poder do cuidado. Antes não tínhamos muitas opções, cuidávamos da casa e de tudo que estivesse dentro. Hoje temos a opções de cuidarmos de nós mesmas.

A alma feminina é leve. Onde quer que estejam, mulheres gostam de leveza. Não a leveza das coisas materiais, mas das situações que vivem. Estejam elas em uma casa escura, com objetos estranhos, o que as tornam felizes é a leveza do que vivem neste ambiente. Ser uma mulher feliz é estar leve, é viver leve, como uma folha que, lentamente, cai de uma árvore alta. Somos esta folha caindo.

A alma feminina é aberta, como um livro que se deixa ao lado para continuarmos lendo dali a poucos minutos. Cada uma tem sua maneira de ser, mas a espontaneidade faz parte desta abertura. Ser espontânea é manter nossa alma aberta. Estamos sempre abertas para sermos atenciosas com os outros, para falar sobre tudo o que soubermos, para rirmos da vida. Cada vez mais, estamos abertas para nós mesmas.

A alma feminina tem força. Enfrentamos as dores de maneira diferente da dos homens. É como se, por mais que doa, passássemos por cima daquilo que nos machuque. Nos deixamos calejar. Engolimos seco. Com toda nossa delicadeza, de leve, sentamos e choramos por aquilo que nos faz sofrer. Mas há algo que nos faz levantar, de maneira mais delicada ainda, e nos faz continuar.

Entretanto, nos dias atuais, muitas mulheres precisam negar todas essas características que nos tornam especiais – e que fazem com que os homens nos olhem com tanto carinho. Não percebem que a independência que declaram (os sutiãs, as pílulas, o não-casamento, etc.) é o que as fazem sentar sozinhas em algum lugar perdido, sem entenderem o que acontece. Choram, mas negam o motivo pelo qual choram. Tornam-se pesadas porque têm medo de serem delicadas e não serem mais respeitadas. Tornam-se fechadas e deixam de ser espontâneas para que as pessoas acreditem no que fala. E aí passam a ser fracas.

Não é o fato de não termos mais que nos casar, termos filhos, votarmos ou outras muitas coisas que nos tornam independentes. O que nos torna mulheres independentes é a maneira como podemos fazer nossas escolhas. Podemos nos casar, sim, podemos ter filhos, cuidar de outras pessoas, usar sutiã e não tomar pílulas. Ainda sim seremos mulheres independentes, porque o que nos diferencia é a maneira com que fazemos tudo isso. É isso: temos o poder da escolha e, ainda melhor, de fazermos tudo isso do modo mais feminino possível. Isso não é maravilhoso? Por que precisamos nos negar de maneira tão cruel? Se antes eram os maridos e os pais que nos maltratavam, hoje somos nós mesmas ao negarmos aquilo que nos é característico.



Texto de Sofia Amorim